quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Musicar

MUSICAR
(CONTRA O HORROR AO SILÊNCIO)


“Toda relação bem sucedida pode ser chamada de musical”
(Roland Barthes)



A indústria cultural, a cultura de massa, favorece no domínio da música em particular, o excessivo desenvolvimento de apenas consumir, em prejuízo do autêntico ato de musicar. O consumo em massa promovido e divulgado pela mídia, consegue refrear o desenvolvimento da cultura popular. O homem massificado adquire verdadeiro horror ao silêncio, precisando consumir, aqui musicalmente, continuamente. Quantos de nós já não presenciamos ou protagonizamos aquela fuga para o relaxamento – num sítio, fazenda, montanha – e demos de ouvido com aquele som infernalmente alto e ruim que vinha daquele carro equipado em aparelho de som? Ou numa compra em supermercado com som de uma rádio FM que de vez em quando toca um música (chata), nos intervalos de um locutor enlouquecido entre suas palavras sem fim e ruídos intermináveis? Ou naquela loja, experimentando roupa, a música contínua e péssima? Concessionárias em dias de “promoção”. Inaugurações. Festas em escolas: músicas que nem adultos deveriam ouvir! A música parece com uma cortina: ninguém repara, só quando tira. Ninguém ouve essa poluição auditiva. Ao menos conscientemente. Já pedi muitas vezes para abaixar o som de lojas e percebi o espanto: afinal, “nem dava para ouvir. E anima tanto...”
Quantas pessoas conhecemos que gostam de algum instrumento, que queriam tocar violão, saxofone ou cantar? Mas é tão difícil... O ensino de música nos Conservatórios é voltado para a formação de profissionais, tendo a preocupação principal dirigida ao treinamento instrumental ou vocal, e em segundo plano os cursos de composição. O intérprete musical – virtuose, técnico – libera o ouvinte de qualquer atividade e anula a possibilidade de produzir. As execuções das obras-primas tornam-se mais importantes que o simples ato de musicar, acessível, em princípio, a todos, tornando a música um consumo passivo. Há a cisão na música: a música que se escuta e a que se executa.
Retomada urgente da música como atividade criadora, e não apenas como uma mercadoria a ser consumida por uma massa amorfa!
É preciso desaparecer com a oposição artista x público. Recolocando o homem, em essência um ser criador, em posse integral de sua natureza criativa. Quantas pessoas já não ouvimos dizer (talvez nós mesmos já o tenhamos dito): “Eu não tenho voz boa para cantar”! É a máquina consumista impondo lamentáveis padrões vocais. O importante não é Ter uma voz assim ou assado, mas descobrir as possibilidades vocais – musicais - de cada indivíduo.
A prática musical nas escolas é incomensuravelmente mais importante que o ensino acadêmico e endurecido de um Conservatório, que visa formar profissionais. É preferível o amador: aquele que ama, e produz. O técnico às vezes está alienado inclusive de si mesmo. De sua potencialidade criadora, julgadora e ativa. A prática que vem pela escola vem acrescida dos hormônios, dos amigos, do amor, da descoberta. Não há notas, séries, provas. Apenas o mais importante: fazer. Não é só o esporte que pode ser antídoto para uma série de males que afligem nossas crianças e adolescentes: a música , dança, teatro, poesia também. Desde que em moldes de criatividade, de produção, de posse e não de imposição.
Regionalizar a cultura musical é diversificar. Aceitar o amador e a diferença. Trazer para as escolas, para os ouvidos que estão se formando, além da música de conservatório, a beleza da música regional, suas peculiaridades e, principalmente, sua forma de ser feita. Formar bandas e tocar nos coretos.
Tente um exercício extraído do livro “O autoconhecimento através da música”, de Peter Michael Hamel deite-se num lugar silencioso. Respire conscientemente. Aos poucos imagine a vogal que sente estar mais próxima de você. Com o tempo descobrirá qual é a “sua” vogal. Com muita cautela, pronuncie esta vogal. Não se preocupe se surgir um som “feio”. Não o modifique para um bonito e cantado. Deixe sair como sair. Repita vários dias. Após um certo tempo, começa-se a cantar sempre numa mesma altura. Você descobriu seu som próprio! Cante-o.
Musique seu próprio som.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada por comentar no blog. Se tiver um email, escreverei para você. Abraço,
Magali