terça-feira, 25 de outubro de 2022


Hoje teve eclipse.

 

A Lua deu uma desfilada na frente do Sol.

 

Segurou um pouco seu brilho vital e ofuscante.

O Sol é o centro do nosso Sistema Solar: tudo gira, literalmente, em torno dele.

 Sua luz e calor nos dão vida, energia e força para crescer. 

No sol somos fortes, seguros, autoconfiantes. Somos leões. Isso tudo é bom, mas ao extremo fica insuportável. Leão, mas com afeto.

A Lua apresenta um brilho mais misterioso, cheia de fases, silenciosamente influencia as marés, a gestação, o ciclo menstrual, as colheitas. É um Sol, mais discreto, pleno de afeto. Nossas emoções estão no colo da Lua.

Esse eclipse traz o afeto acalmando a explosão. 

Que o raio intenso respire fundo.

Uma pausa.

Na expiração, valores silenciosos como confiança, empatia, aceitação do fluxo, solidariedade, afeto, respeito, desfilem na nossa mente.

Que o leve brilho prateado da Lua passeando em frente ao Sol seja um sopro de paz em nossas almas. Por um segundo. Que seja.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

sábado, 4 de junho de 2022







Nhoque me lembra a minha Vó Estela.

 

Minha vó sorridente, sempre de vestido e seu brinco azul. Seus olhos azuis, seus cabelos brancos. Parecia uma estrela.

Minha vó era animada, crocheteira, emprestava dinheiro (e cobrava um “jurinho”). Veio fugindo da Guerra, lá da Calábria. Viveu até os 98. Ou 99.

 

Falava umas palavras em italiano, tinha todo jeito italiano e gostava de ensinar palavrão em italiano pra gente! Meu pai ficava meio bravo: com os palavrões e com o “jurinho”.

 

Quando ela fazia nhoque, enrolava a massa em cima do cimento do gás.

Eu, com as mãos de farinha, cortava os pedacinhos.

 

Para mim tudo isso era uma festa. A casa da minha vó....

 

Hoje eu fiz o nhoque aqui em casa, na bancada da cozinha, lembrando como ela fazia. Lembrando de tudo, revivendo tudo. Minha vó foi sensacional. E o nhoque ficou bom demais, não ficou, Hamilton?



 

terça-feira, 31 de maio de 2022

 




THIS IS US
or
THIS ISN´T US

This is us me trouxe muitas emoções. 

Propiciou conversas edificantes, prestou serviço. E me vem This isn´t us.

Não tenho pais que ficaram casados até um deles morrer. Nem eu fiquei casada com o mesmo, para sempre. Para quem tem mais de um casamento, como eu, meu atual marido e meus pais, qual dos cônjuges vai estar lá, na cama, no quarto do trem final? Pode escolher? Ou o critério será antiguidade? Afinidade? Aquele com quem se teve filhos? Ou estarão todos lá, no mesmo travesseiro? Já acrescentou uma certa angústia - e talvez em algumas pessoas nessa situação. Tem gente que pode estar na sala, no quintal, no parque... mas já tiramos do quarto. Você aí, que já casou mais de uma vez, pensou nisso?

Não tenho irmão ou irmã gêmea. Então não sei como é viver essa ligação intensa... meio codependente no meu modo grotesco de avaliar. Irmão é aquela coisa: bacana à beça para brincar e complicado à beça quando não quer brincar. Tem irmão que não aceita a ordem em que veio, ou mesmo ser filho. Irmão mais velho é um perigo. Digo por mim que sou a mais velha de todos os casamentos dos meus pais. Isso ninguém me tira! Mas tentam roubar. Os mais velhos dos novos casamentos ... daí a brincadeira não rola, fica tensa. Irmão é bom mesmo para brincar, na boa. Você está brincando bem com seus irmãos?

Não tenho irmão negro adotado. Que eu saiba. Essa história foi a mais complicada. O adotado para suprir um buraco da perda do filho morto no parto. Eram três e tem que voltar com três para casa. Não tem como encaixar. Os Persons quase canonizados por essa grande ação, sempre amando, amando. Me faz pensar nas adoções para “tapar” problemas familiares. Já vivenciei com uma amiga que a irmã dela que teve filho e a mãe adotou para não “estragar” a reputação da filha. Um rolo danado. Todo mundo fingindo. E pensei num lance que chamarei de “adoção passiva”: a criança não é filha do cara, mas nem ele nem a criança sabem disso. E vivem “felizes para sempre”. Tem disso sim. Às vezes não encaixa pai e filho – ou filha - e a gente acha que é problema de terapia, mas pode ser sistêmico: no fundo a alma sabe que tem um grande engodo ali.

Ex-conjuge incluído na família atual. Sensacional o Toby presente quando morre a ex-sogra. Se bem que dizem que sogra é para sempre, tem até lei formalizando isso, parece. Pensa no this is us da vida real: o cônjuge atual, e os cunhados – os cunhados!, aceitando sua presença suave na nave... Já viveu isso? Nesse meu mais recente casamento, e espero que último, por vários motivos, eu queria fazer um café da manhã com a família mosaico completa. Eu, meu marido atual, meu ex com a atual dele, a ex-dele com seu atual (que não sei se tem... se não tiver já quebra toda a simetria) todos os filhos... Todo mundo feliz. Seguindo em frente. Uma das minhas imãs quando ouvia sobre esse meu sonho, dizia: “só você quer esse café da manhã. Vai dar morte”. Tenho a sensação de que ela está certa. Uma força maior protegeu nossas vidas, evitando o hell´s breakfast. Que você acha? De minha parte, desisto temporariamente: fica para uma próxima encarnação.

Inclusão do cônjuge atual pela família anterior. Quem assistiu a séria de com o sentimento de Poliana (como o meu para com o café da manhã da família mosaico) pode ter achado que o Miguel era totalmente aceito e incluído. Não sei bem se o Miguel foi “incluído”. Ele estava lá. Era como um pinguim em cima da geladeira. Lembra quando ele quis fazer sua festa de aniversário e colocar a bonequinha mexicana? Precisa dizer mais alguma coisa?

Mas em matéria de separação e recasamentos tem chão ainda, para todo mundo. A separação dos meus pais aconteceu há 50 anos atrás. Não tinha divórcio. Era desquite. Ou seja: a pessoa nem podia se casar de novo, “no papel”. A sociedade não tinha experiência de separações. Os filhos eram feitos de joguetes entre os pais, cada um tentando provar que o outro era pior ou não prestava; a disputa pelos filhos era psicológica e cruel. Hoje melhorou muito: tem até guarda alternada, onde se divide a casa deles, já que não dá para dividir ao meio um ser humano. Concorda que evoluímos bastante?

Na vida real, que família aguenta a assertividade da Beth? Ainda mais sendo cunhada – ou, mais denso ainda: nora?


“This is us” acabou. Foi legal. Um conto de fadas da família quase perfeita.

A vida real e de viés está de volta.
Bora viver o This isn´t us: minha família maravilhosamente imperfeita.

(This is us é uma série finalizada, que pode ser assistida na Star+)

quarta-feira, 4 de maio de 2022

segunda-feira, 25 de abril de 2022

 






Um presidente desses…
Elegante
Inteligente
Educado
Muito educado
Gentil
Diplomata
Amoroso
Equilibrado
Bonito
Ah… um presidente desses…
🇫🇷
(E não estou demonizando a Marine não. Democracia é pluralidade. Democracia, no meu ponto de vista, nunca foi “ele não” , mas “escolhi este”.)



 



Não considero a democracia representativa a melhor forma de governo, mas é o que tem pra hoje e votar me compromete com a escolha.
Tá votado no Macron, não porque eu considere a Marine ultra-direita (aliás esse papo de esquerda e direita já está bem mais complexificado do que expressam nossos vãs discursos) - e em algum momento acredito que a França precisará rever sua legislação ou implodirá. Vejo assim daqui. Mas esse pode ser um assunto para outro momento.
Alors, aujourd’hui… j’ai voté!
Vive la France!🇫🇷







segunda-feira, 18 de abril de 2022







Ser cristão é um desafio.
Não estou falando de ser religioso. Estou falando de uma filosofia para a Vida. Aqui o convite é amar ao próximo com um modelo de amor. Um amor que inclui todos. Um amor que não exclui. Uma amor que ama a si, ao próximo, ao não tão próximo, ao diferente. Um amor com ordem e total.
Ser cristão é um olhar para dentro que orienta e define pensamentos, sentimentos e ações.
Atire a primeira pedra quem acha fácil.


 

quinta-feira, 7 de abril de 2022


A experiência macabra de imunização de rebanho no Amazonas só não atingiu ainda mais brasileiros e famílias graças à Coronavac.

Os idosos e os trabalhadores de saúde puderam sobreviver e respirar, graças ao Butantã e ao Governo de São Paulo. O SUS é uma estrutura maravilhosa, mas sem abastecimento é uma mesa posta sem comida, para quem tem fome.

A Coronavac, chamada por alguns de “vacina água com açúcar” arrastou a vinda das outras vacinas. Sem ela, as outras não teriam vindo. Nosso país seguiu a linha de esperar sentado. De fazer bravatas e desdenhar.

Quem não estava no poder, seja no legislativo, no judiciário ou no executivo passou pela pandemia sem ter que assumir posições. Podem criticar, mas são os tais “engenheiros de obra pronta”. Não contam em nada.

Esses dois últimos anos foram duros e parece que a vacina fez diferença para estarmos aqui e agora. Vivos.

Há algo mais importante que isso?




 





Metade chuva
Metade mar

Metade nuvem
Metade céu

Metade terra
Metade infinito

 






O QUE VOCÊ VÊ?

Eu vejo um lar, que acolhe um tronco familiar, com várias ramificações.
Todo mundo irmão, mas reunidos em várias associações: uns se juntam por proximidade geográfica; outros pela ascendência sanguínea, pela língua, pelos interesses comuns. Junções que não são excludentes e podem ser concomitantes.

Sobre a desavença entre Ucrânica e Rússia não tenho muito o que falar. Como brasileira, geográfica e culturalmente estou longe. Nós aqui no Brasil, não somos da União Europeia, como os europeus não são do Mercosul. Como cidadã francesa, fico triste em ver irmãos brigando. É fácil o presidente dos EUA afirmar taxativamente que o agressor é a Rússia. Só coloca mais lenha na fogueira. Ele não é da união europeia. Ele é da Otan. Uma engenhoca que criamos para equilibrar na base militar a guerra fria. Mas acabou a URSS. Caiu o Muro de Berlin. E mantivemos a Otan. E toda memória de um conflito ancestral, vira um problema entre quem é ou não da Otan. Os EUA ficam de consciência bem leve encontrando um agressor final para tudo, que óbvio não são eles e se colocam como xerifes salvadores do mundo. Meu coração pergunta: até quando e para quê a Otan? A quem interessa a Otan?

Repito que tenho pouco a dizer sobre ser agressor ou vítima ali. Não sei se a Ucrânia é tão inocente ou a Rússia tão maligna. Faz um tempo que procuro olhar os eventos para além do “quem é bom, quem é ruim”. Vejo pessoas sofrendo, bombas, desespero, de um lado e isso me entristece. Do outro lado, não vejo nada, não ouço quase nada, e gostaria de ver. Deve haver a busca de algum equilíbrio nisso tudo. Vejo presidentes tentando defender a história de seu povo. Vejo integrantes da união europeia cuidadosos porque sabem que estão numa mesma ramificação da árvore. Todos são europeus. Até os russos. Acredito que a paz virá pela articulação da união europeia, pelos irmãos.

Penso num dia em que cada ramo da família viva bem entre si e entre todos. Que a casa fique em ordem.


Um jour tu verras
On se rencontrera
Quelque part,
n’import où,
guidés par le hasard


E você o que vê, olhando nossa casa?

 






 

quinta-feira, 3 de março de 2022

OTAN TO CABELUDA


Gente, que guerra velha é essa?

 Vejo esses ataques à bomba em prédios e me sinto aquele gorila raivoso marretando ossos, com osso. Osso humano. Humano. Me sinto um pedaço de humano girando do futuro em direção ao passado. Uma odisseia do espaço ao contrário. Evoluímos em tantas coisas, mas fazemos guerras à moda antiga? E ainda fazemos guerras. Só que isso não é novidade, porque a guerra nasce da exclusão e estamos nos excluindo dia a dia.

Desde que o muro de Berlim caiu, fiquei sossegada: essa divisão direita, esquerda, capitalismo, comunismo, acabou. A ideologia ficou holística. Nada mais vanguarda. Nada mais Era de Aquário começando na Era de Peixes. Peixes já tá de bom tamanho. Nada mais Hair!

 

Lembra do filme, Hair?

 

When the Moon is in the Seventh House
And Jupiter aligns with Mars

Then peace will guide the planets

And love will steer the stars

 

Harmony and understanding

Sympathy and trust abounding

No more falsehoods or derissions....

 

Pra que otan? Pra que união européia? Pra que comunismo fechado? Pra que capitalismo selvagem? Pra que direita e esquerda? Pra fazer nova guerra velha colorida.

Se for obrigatório voltar para o passado, vocês me acham nos sonhos da música Hair. Estou na Era de Aquário, atemporalmente cabeluda.

 


 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022





A UCRANIA NOSSA DE CADA DIA

Agora é guerra!

Agora?
Só se o agora for o tempo infinito, o eterno agora.

A mais nova variante da omicron vem do outro lado do mundo. De novo. E nos salva do tédio de uma fraternidade universal.
Como abrir mão da nossa OTAN particular? Daquele grupinho seleto onde quem está é Gtop e quem não está - é Gnada. De onde se pode julgar “os outros”, como se não fôssemos todos um só. E elaborar teorias embricadas que justifiquem a vítima e o algoz?

Quem nunca que guarde a primeira bomba.

A paz leva um tempo comprido para ser construída: mediação, conciliação, reconciliação, restauração, autoconhecimento, paciência, recomeços, verdade, humildade. À guerra basta a exclusão, o julgamento. Basta surgir aquele Hulk dentro do peito que diz: eu e meu pessoal - os não-ridículos, os sempre-certos, os não-egoístas, os não-tudo-que-há-de-errado. Os perfeitinhos. E liberar o míssil aleatório.

Vivemos nosso dia a dia alegrados com morte e guerra.

A Ucrânia nossa de cada dia, que se revela nas guerras domésticas, entre amigos e famílias, que a pandemia revelou com intensa profundidade. 
Ninguém suporta mais ninguém.

 





Como uma água- viva morta seguem os dias sem abraços, sem aglomerações, numa insana disputa de quem é pior: quem usa máscara ou quem não usa? Quem toma vacina ou quem não toma?
Somos classificados a cada mínimo suspiro como facistas, comunistas, genocidas, marxistas, nazistas, homofóbicos, machistas, feministas, racista, direitista, esquerdistas, macumbistas, mais um milhão de rótulos.
Tornamo-nos anti-tudo.
Inclusive e principalmente anti-gente.
A pandemia não piorou nada: só escancarou o que já estava ali.
O mundo virou um FLAxFLU, com direito a porrada e marretada no outro mesmo antes do jogo acabar.
Só que eu sou o outro do outro.
Que falta faz um abraço daqueles de urso - lembra?
Um abraço sem máscara
De peito aberto
Sem medo

Uma água-viva queima.
Uma água-vida morta é um grande catarro. Um zumbi. Com ou sem máscara.

Mas a vida não se detém e lá vem a onda do mar…

 




Eu caminho como quem flutua sobre o oceano.

Atrás de mim, a Luz me impulsiona.
Acima, a Lua mostra seu halo multicor. O céu negro revela mistérios.
Abaixo, raizes profundas de corais, correntezas e travessias.
À frente, a Vida.

Eu, avião de imensa vela, decolo no balanço do píer.

Eu nado a favor.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

 

 A VOLTA DO QUE NÃO FOI








Conheci o Larica Total num momento total flex feliz da minha vida, através do meu marido atual, o terceiro. Sim. Terceiro. Eu Acredito no casamento.

Tá rindo de que?

Meu mapa astral tem sete astros na casa do casamento.  Amei os três imensamente. Amo ainda. Só que não é fácil administrar tanta influência astrológica no meu dia a dia. Vou me virando.

Ele me chamou para curtir uma lareira e ouvir uns discos de vinil. Achei a cantada mais tosca do mundo, pois não achava possível uma lareira num apartamento. Ardi em brasas quando ele tocou lenha.

Do lado da lareira, um sofá. Do lado do sofá, uma tevê. Explodindo tudo, o Larica.

Aquele mundo de panelas perfeitas – que eu não tinha; de receitas perfeitas – que eu não conseguia nunca repetir; de casamentos bem cozidos – que eu queimei, torrei como carvão, finalmente entravam na real: busquei tanto tempo por respostas incríveis, não percebi que estava ali bem na minha frente: a faca de pão multiuso. Numa metáfora quase crística: a solução num abrir de gavetas.

Casei.  De novo.

O Larica foi morrendo.... as reprises já não satisfaziam mais.

De repente, uma invasão de forno, fogão, língua e digestão:

Perto do fogo (não mais a lareira), receitas que funcionam (evidente que não as minhas), naturebas com barbatanas do Himalaia, cozinha-marcenaria, exigências infantis – que seja doce ou com chatos pra comer, esperanças de marravilha no francês forçado, os masterchefs (virou guerra isso), bela cozinha, pesadelo cozinha, pancs (que catso isso agora?). Nem sei  quê mais.

 

A vida se complexificou em dez anos.

E então, como um bolo que sola, ressurge o Larica, só podendo vir de outro planeta mesmo.

Nem precisava do mesmo apê, da faca de pão, da panela preta, da cueca vermelha.

Não precisa voltar. Não dá pra voltar. Larica Total não precisa de âncora.

Faca elétrica ou a total flex de pão, na rua na chuva ou na fazenda - qualquer lugar é lugar de vida.

Se lixe a volta. Os ex-casamentos. A lareira. A panela preta.

Larica é presente. É teatro invisível vivo. É voo livre.

Sem roteiros, sem pratos requentados.

É pimenta no olho. É fogão da liberdade.

Larica é fodex.

 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

O QUE TEM PRA COMER?

 










Hoje entrei numa lojinha de orgânicos, aqui perto de casa.

Fiquei uns segundos do outro lado da rua... entro ou não entro? Quero conhecer a loja e os produtos, mas esse povo costuma ser meio chato que critica tudo e se acha superior. Pra toda teoria,  tem um chato que se justifica atrás dela.

Mas, meu coração – ah... meu coração - me diz: tamo tudo junto.

Então juntei minha racionalidade construída, meu sentimento natural e  trouxe meu corpo, direcionando meus pés para a porta da loja. Venci minha resistência. Entrei.

Lá dentro, um ar-condicionado gostoso, uma lojinha pequena e aconchegante, uns pimentões, tomates, batatas, hortaliças e a Renata. De fita cor-de-rosa no cabelo e máscara preta no rosto. Ela vai me explicando como funciona a loja, a entrega, o QRCode, o site e exala uma tranquilidade cheirosa, como uma horta.

 

Então vem a pergunta inevitável, que pode estragar todo o clima:

 

- Você vegetariana?

- Eu não sou vegetariana, Renata.

- Vegana?

Não sou vegana.

Não sou carnívora.

Não sou ovolactovegetariana

Não sou pesco-vegetariana.

Nem flexitariana.

Nem onívora.

Nem crudívora.

Tem mais algum nome que esqueci?

 

Lembro de uma fala que ouvi num templo budista (não, não sou budista):
“Aqui comemos o que recebemos em doação. Não cremos ser justo recusar ou escolher alimento”.

 

Minha postura em relação à comida é gastro-ecumênica.

Toda comida que nos chega à mesa é sagrada.

O que tem para comer? Comemos com alegria.

 

A Renata sorriu com os olhos.

 

Obs.: Ainda quero experimentar o pé de galinha que minha nora adora!