segunda-feira, 19 de março de 2012

Validade: indeterminado

"Amor tem prazo de validade. Pra uns é dois meses, pra outros dois anos, vinte. Mas uma hora acaba."


Eu não acredito nisso.
Que uma hora, de forma determinista, acabe.


Acaba, ao meu ver, por motivos como:
a arrogância que supera o entendimento
o egoísmo que fala mais que a compreensão
a surdez que se alterna com o silêncio ferino
a desconfiança de um que se alimenta das mentiras do outro
a incapacidade de manter-se indivíduo e 
ao mesmo tempo entregar-se.


Acaba pelo apego às falhas, por não querer enxergar-se, e crescer.


Eu acredito no amor com prazo de validade indeterminado.
Eu acredito no amor que se constrói no dia-a-dia,
com carinho, atenção, respeito, honestidade, compreensão, tolerância, limites.


Com verdade.


E me sinto um peixe fora dágua.
Mas eu não nado: vôo.


Então não me importo.
Sonho esse amor, aqui nas estrelas.

domingo, 18 de março de 2012

Em que pé estamos?

O Everson, professor de dança, juntamente com a linda Luisa - fiz com eles Tango, Gafieira e, agora, o  curso de Condução Masculina,  sempre repete uma frase:


"O homem precisa - precisa - saber em que pé a dama está".


Num momento da aula , hoje, ele pegou uma senhorinha pra fazer o "peão", com ele. Peão, como o nome sugere, é um movimento de giro. Precisa equilíbrio, coordenação e entrosamento, dos dançantes.


Ela ficou apreensiva em dançar com o professor. (Quem não fica?).


Ele percebeu e disse:
"Ela já está nervosa, antes de qualquer coisa. Estou aqui, acalmando-a, percebendo-a e deixando-a tranquila".
Fazia, enquanto isso, o passo básico, com ela.
De repente, os dois faziam o "peão", lindamente. 


Ela sorria. Transbordava felicidade.


Os cavalheiros precisam saber que nós, damas, estamos inteiras na mão deles. 
Nosso corpo, nossa alma, nossa emoção. Estamos nos deixando conduzir. Isso não é fácil e nem simples.


Os cavalheiros precisam  saber em que pé as damas estão, para nos levarem, com delicadeza, sem trancos, aos deliciosos passos caminhados juntos na dança. Se estamos apoiadas no esquerdo, levem-os para a direita, senão tropeçaremos na nossa entrega. 


Mas, muito mais que saber que pé nosso está no chão, o cavalheiro precisa saber "em que pé estamos": se calmas, ansiosas, nervosas, tensas e acolher. 
Acalmar.


Antes de qualquer passo, o encontro.
O braço firme nas costas e a sensação de que estamos protegidas. De que nada nos fará mal.
Nem um salto deseducado atingirá nossa canela, nem um passo afoito do nosso parceiro e, principalemnte, nenhum desafeto emocional.


Num dos bailes de forró que quase sempre vou aos domingos, dancei onze músicas com um rapaz que não sei o nome. Eu e minhas amigas o apelidamos de "Trancinha", por causa do cabeço.


Foram onze músicas de corpo colado.
Um sentindo o outro.
Não fizemos giro. Nem passo, Nem nada.


Ele e acolheu e dançamos.
O tempo do mundo parou e só existia o tempo da música.


Dança é isso.
Pra mim.


sexta-feira, 16 de março de 2012

Alfajor

Ganhei do meu filho, que foi para a Argentina, numa viagem relâmpago (e trovoadas que balançaram o avião), um Alfajor Cachafaz.


Alfajor El Cachafaz


Eu vi na Wikipedia que o nome vem do árabe - al hasu - e significa recheado.


O alfajor, aqui do meu lado, um doce especial, para ser comido, me mostrou alguns recheios.


Coma sozinha.
Eu não guardaria nem um teco pra você.
Divide comigo.
Guarda um pedaço pra mim.


Meu alfajor vem com mais recheio: ser dividido, degustado, junto com alguém. Foi logo o que pensei.
Ele ganha em tamanho, em recheio, em delícia. 


Pode ser que alguns pensem que eu sou um a boba em dividi-lo com alguém.
Mas, para mim, não é divisão: é soma.


Desde que a pessoa pense assim também e não queira apenas devorar o belo doce.


To na captura de somar meu alfajor com alguém.


                                         Candidata-se a um Besame Mucho açucarado, recheado de carinho?  




sexta-feira, 9 de março de 2012

A sacola da discórdia

Eu vi uma sacola térmica explodir uma amizade.


Dentro dela havia ingredientes antigos, como companheirismo, parceria, entrosamento, alegria.
Mas na realidade estavam vencidos. Podres já no início.


Eram ingredientes da minha sacola, do que eu quero construir.
Não existiam na realidade, fora dela.


Quando ela foi doada para outra pessoa, eu vi o desrespeito de forma contundente.
E percebi que não podiam mesmo aqueles ingredientes que eu acreditava: quem é amigo, respeita.


Essa sacola me ensinou muito: eu nunca tinha tido um falso amigo, uma pessoa que me enganasse de verdade. Meu instinto, no entanto, dizia que algo não era saudável, mas eu não ouvi.


A sacola anti-térmica voltou.
Mais cheia de minha perplexidade com a capacidade de fingimento humano.
Um pouco mais vazia, da minha ingenuidade.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Vida semifusa


A vida se faz semifusa
quando homens
de olhar sincero
se enganam
com o ópio verde do depois
deixando estrangular ações
emoções
revoluções.


Pausa.


Morrem disfarçados de felizes
Com carinhas de anjos
Hipocritamente em pausa
Na pausa do desespero
De tomar do fantasioso cálice
Abençoado.

TANGO


Quero contar-te
que podes
quando quiseres
rasgar minha roupa
pele ou camisola

Que a força de teu braço
pode me apertar
até que eu perca a identidade
e me apavore
depois me delicie
te devore
te sevicie.

Repito
num só som:


sou tua.

Blues



a porta
se fecha
e uma dor
de partida
se abre

como se fosse
a última.