quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Em busca da serotonina perdida

Todo ano a mesma coisa.

Isso é bom. E não é.

Tem coisas que se repetem e são vida.
Outras, trazem aflição.

O Natal é nosso momento ápice de esquizofrenia.
Ou de dupla personalidade.
Ou, na moda, bipolar.

Luzes, flores, comidas, afeto, presentes, correira, trânsito.

Desde quando dar presentes de forma obrigatória é gostoso?

Temos obrigação de dar presentes na tal da passagem do  dia 24 para o dia 25 de dezembro.

Mas por quê?

Se nos perguntarmos "porque" alguns ateus e afins entrarão no Prozac: quando se toma uma postura crítica ou se é exilado ou doente.

Misturamos então os mais tenros e doces sentimentos (família, caridade, amor e outros) 
com os mais mesquinhos (consumismo, falsidade, agressividade).

Mas pra tudo temos soluções. 
Ou paroxetina, fluoxetina, sertalina 
ou, 
graças a deus, 
o Reveillon.
Aí todo mundo solta a franga e libera a bagaça: negócio é beber até cair.

Nada de pensar ou recomeçar. Nada de mudar.
Vamos às compras e comidas.




Para mais um pouco: A origem do Papai Noel


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Mamam

Il me manque maman

Sinto falta do seu cheirinho
do seu abraço
do seu toque

sua voz
e seu olhar

Voz baixa

Muitas coisas agradáveis me lembram minha mãe

sua voz
seu cheirinho
seu olhar


mas a mais profunda
é que minha mae não grita

Nunca grita.

Fala baixo.

Sempre.

Proesia

Quando falta poesia 
sufocados no prosaico 
a vida fica dura 

não é preciso um poeta profissional 
uma grande reviravolta 
um momento artificial

um olhar 
um sorriso 
um abraço 

uma folha que se agita verde ao vento 
uma borboleta que pousa azul 
uma flor que se abre amarela 

um operário realizado 
uma mulher grávida 
um goleiro que ama seu time 

nos remetem ao prosaico 
onde a poesia é mais pura.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Amor e Sal

Doce e verde mar de amor que invade minha alma de sal. Minha vida um oceano de felicidade. Com você.


Para Tom, meu amor.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Livre

Meu pai um dia escreveu,
no poema em que redigiu para mim, quando fiz dezoito anos:

" Não sei se não matei 
o pássaro irreverente 
que se atrevia a tentar passar pelos arames"

Meu pai conheceu minha alma de maneira profunda.
Mais que profunda. Me entendeu nos meus mais contraditórios movimentos.

Ele acertou na mosca quando percebeu "o pássaro irreverente" que habita em mim e me impulsiona.
O meu desejo de liberdade me arrebata e me dá o posicionamento no mundo. A partir dele eu me relaciono, eu me entendo. E se quero voar, não quero só para mim. Quero todos. Vislumbro todos pássaros capazes e livres. Minha liberdade, no entanto, não é libertina. Ela  tem o peso da leveza da responsabilidade. Eu, como todos, somos responsáveis pelas nossas escolhas. Poder escolher e assumir é o que faz brilhante minha vida.

No entanto, meu pai talvez não tenha percebido que ele não matou o pássaro. Essa dúvida ele não precisaria ter.
Ao contrário, ele criou em mim o pássaro da liberdade. E me ensinou a reconhecê-lo.

Mostrou-se que ser livre é crescer.
Que o mundo adulto é a liberdade com responsabilidade que meu pássaro deseja, sempre.
Suas escolhas me inspiraram.
Seu caráter me moldou.
Sua disponibilidade para discussões me enriqueceu de conceitos.
Seus valores ampliaram o meu.

Eu cresci livre.
Eu posso escolher e, o mais importante, assumir minhas escolhas.

Sua passarinha, pai, vive livre e irreverentemente ultrapassa os arames. Com responsabilidade.
Obrigada. 









Poesia no caos

Parada no farol, eu cantava ao volante.
Do meu lado, uma viatura policial.

"A senhora canta muito bem."

Olho para o lado: dois policiais. 
Um moreno, cara rechonchuda; o outro bem claro, de aparelho nos dentes.
Os dois de óculos escuros.

Quando me virei para eles, dois sorrisos largos me receberam.

"Obrigada".

"É é afinada."

"Que bom que gostaram..."

"É bom pra relaxar ouvir uma voz assim ..."

" Realmente, vocês precisam mesmo de momentos relaxantes.Desejo a vocês um bom dia de trabalho."

"Pra senhora também".

Novos sorrisos iluminam nossas vidas.

O farol abriu.

Talvez, alta probabilidade, nunca mais encontrarei esses dois jovens, fardados. Cheios de sonhos, de vontade de trabalhar, de ouvir música. Como meu filho. Como nossos filhos.
Não é possível que uma sociedade permita tanto o preconceito contra uma categoria profissional, quanto o assassinato "alvo fácil". O policial mostra-se, fardado. O assassino espreita e atira escondido. sempre pelas costas.

Numa guerra civil como a nossa, me emociona ver dois meninos trabalhadores que ainda percebem um momento de poesia na dureza da vida no fio da navalha.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Poema da curva

Não é o ângulo reto que me atrai
Nem a linha reta, dura, inflexível,
     criada pelo homem.

O que me atrai é a curva livre e 
     sensual.

A curva que encontro nas
    montanhas do meu país,
no curso sinuoso dos seus rios,
nas nuvens do céu,
no corpo da mulher amada.

De curvas é feito todo o universo,
o universo curso de Einstein.


Oscar Niemeyer