Existe alguma coisa de atemporal no tempo.
O relógio digital eliminou os segundos:
o espaço onde a vida
acontece.
Tudo agora mesmo pode estar por um segundo.
E é ali, nos segundos, que a vida pede um pouco mais de
calma.
Passa tão depressamente devagar o dia chato.
E o momento de prazer, expressamente.
Como é lindo um homem maduro, grisalho. Seguro.
Como é lindo o menino desabrochando em barba e tesão.
Impulsivo.
Tenho medo do tempo, que ele leve embora beleza,
consciência, agilidade.
Eu levo na flauta. O tempo musical é intemporal. Não
acontece nem nos segundos, nem nas horas, nem nos anos. Acontece. Pulsa. Ali eu
moro.
No andamento que a música me traz, eu ganho paz, maturidade,
paciência.
Num espaço de silêncio, que escapa e invade.
O tempo cura.
Nada mais eu preciso.