quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Música à vista!

Quando Cabral descobriu o Brasil, gritou:
“- Música à vista!!”
O que, a bem da verdade, foi um santo remédio para ele que andava meio enfadado.

A tripulação se agitou não se sabe bem se por causa da variedade de sons ou por causa das “índias” a balançar os quadris.
Aportaram com espelhinhos, miçangas e bugigangas, mas os supostos “índios” estavam alvoroçados e não queriam saber daquelas quinquilharias.
Gritavam, entusiasmados:

- O pessoal da gravadora chegou! Estamos salvos!!

Cabral, de cara, se enfeitiçou por Tom Jobim, Chico Buarque, Vinícius, Caetano, Rita Lee, Gilberto Gil, Sinhô, Pixinguinha, Ismael, Noel, Geraldo Batista, Cartola...
Um sem-fim de povo bom de música.

Esperto como ele só, dono de um tino comercial enorme, que só perdia para seu senso de orientação, pensou:
- Isto cá é uma mina de ouro, ora pois!E sacou de seu portátil e gravou, pra começar, Garota de Ipanema e Carinhoso.
Foi o suficiente.
Certo de agradar seu rei, voltou a Portugal orgulhosíssimo da bagagem magnética que levava. É certo que a viagem de volta foi difícil, pois perdeu muito de sua tripulação que resolveu ficar para desfilar no Olodum e no Ilê, no carvanal da Bahia.

Quando chegou, explicou ao rei o porquê da baixa de marinheiros e mostrou-lhe a fita k7, dizendo:
- Isto aqui vale ouro, pois não!
- Não me diga bobagens, pois sim! Disse o rei com enfadamento.
- Meu rei, disse ele num jeito já meio baiano de ser, está na cara que esta música será a mais tocada no planeta. Vamos ficar ricos!
- Vamos? Ora, Cabral, olhe para mim e veja se preciso algo além do que aquelas terras abençoadas que você descobriu, apesar de ir na contramão. Vamos explorar a colônia e só!
- Meu rei, vamos montar uma gravadora vinculada com uma editora e ganhar o planeta!
- Cabral, a viagem lhe tirou os poucos miolos que você tinha. Deixa cá esta fita, confiscada, e vá conversar com Colombo sobre questões mais importantes. Estamos tendo muitos problemas. Além do mais, tamanho monte de ritmo é música de índio. Esquece, Cabral!

O rei confiscou a fita, mas diz-se que de vez em quando era visto cantarolando umas canções nada enfadadas.
Cabral mandou um email para o pessoal:“Índios, sua música não serve para o sucesso”.

Caetano estranhou:- Índio? Eu sou baiano, de Santo Amaro da Purificação!! E foi uma polêmica e tanto!

Mas acontece que os hacker dos Estados Unidos da nossa América tinham grampeado o computador de Cabral. E então ficaram sabendo que havia uma mina de ouro naquele país tropical cheio de “índios”. Mandaram agentes especiais, olheiros, que foram, devagar e sempre, selecionando alguns escolhidos para o sucesso, desde que fizessem algumas concessõezinhas, é claro, que nada vem de graça. Só vai.

Pra começo de conversa, toda “índia” que quisesse fazer sucesso, teria que ser loura. E foi uma correria aos supermercados para comprar o hene-maru super-blonder.E os brasileiros, que falavam português, elegeram uma portuguesa como símbolo com todos os penduricalhos de Cabral, a Carmem Miranda, ora pois, numa tentativa de agradar ao pessoal da “gravadora”. Alguns questionavam as concessões, mas eram uns chatos. Sucesso é bom e todo mundo gosta.

Muitos foram levados embora. Os que ficaram, morriam de fome física, mental e espiritual. Quando Frank Sinatra gravou Garota de Ipanema, Cabral processou o rei de Portugal por perdas e danos.Perdeu. E danou-se. Com todo espaço cedido, os gringos compraram nossas rádios com uma espécie de fruta chamada jabá e determinavam o que se gostava ou não.

Pior: determinaram que nossa música não tocava mais por aqui. Que a deles era melhor e coisa e tal. O músico-índio ficou surdo de esperar ouvir seu som tocando no rádio daqui.Hoje alguns estão felizes: quase já falamos inglês totalmente, acreditamos na globalização como uma forma democrática de expansão das nações, e que no fim-de-ano o Papai Noel nos realizará todos os desejos.

Outros continuamos na luta, batalhando pelo talento, pelo valor e a riqueza de nossos maxixes, que não tocam mais.

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