terça-feira, 28 de julho de 2009

Herança


Muito bacana o passeio pela Casa dos Contos.

Tanta memória preservada que dá gosto.

Toda travessia é auxiliada por mocinhas delicadas que nos orientam. Solícitas a cada pergunta.

Exceto na Cozinha dos Escravos.
Ali o sol é pouco.
Ali a memória foge ficar escondida.

Instrumentos de repressão, expostos, em redomas.
Algumas aquarelas, delicadas, nos dão um pouco a idéia da crueldade dos equipamentos.


O vigia do local, negro, reclama da falta da presença das mocinhas ali em embaixo também. Afinal, a Senzala faz parte do Museu. Mas, ao mesmo tempo, explica, com certo orgulho e dor, tudo que lhe perguntam. Vê-se no seus olhos a memória viva da raça. E a força de ter aprendido as respostas.

Explica: ali não se pode fotografar.
Todo o Museu foi livremente fotografado. Ali, não pode. Diz que foi por causa do uso indevido das fotos. Quem terá espalhado nossa memória, assim, descaradamente? Não pode! Isso fica nos porões!

Todo o caminho leva à nossa herança: um modo de pensar colonialista: imitamos nossos colocnizadores, seja em que época for. Um estilo de vida coronealista: manda quem pode, obedece quem não quer ir para o tronco. Valem as hierarquias. Vale quem pode mais.
Vale quem chegou primeiro.
Olhar essa Senzala balança firme posicionamento contra a política de cotas.
Ruim com elas, pior sem elas.
Uma dívida, que não se pagará jamais.
Dor, que não se apagará no fundo do museu.


No espólio de um país morto em sua macaquice colonialista,
o ouro é preto, mas o valor é branco.


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Magali