quinta-feira, 21 de junho de 2012

No MASP, com Rousseau



 
Amigo Rousseau, 
vou lhe contar, com detalhes, uma tarde, deliciosa, que passei no MASP, aquele museu que você já conhece, mas esqueceu. Você tem se comportado como um velho, apesar de seus 300 anos...

Uma tarde que  foi um bálsamo para os meus cinco (seis) sentidos.

O almoço, leve e lindo, estava uma delícia. A sobremesa, nem posso comentar senão engordo de novo. E sei que vai me criticar, por que considera que a “gulodice é o vício dos corações sem fibra”. Desculpe, foi irresistível.  Se só é possível filosofar em alemão, é impossível diante de uma mesa farta.

Como te conheço, e sei que acredita que existe uma correspondência entre o paladar e o olfato, já aproveito o assunto pra te contar que o cheiro daquele lugar era sutil. Por isso, muito agradável.

Não havia música ambiente. Pude ouvir o silêncio. Além dele, alegres e gentis palavras. Meus ouvidos não identificavam tudo, mas ouviam. Sim, eu sei, que a audição é o mais completo dos sentidos, sob seu ponto de vista, mas o que posso fazer se minha alma estava escutando além dos meus ouvidos? E encantando-se. A musicalidade das palavras substituiu os elementos do discurso.

Eu, que ainda não aprendi a ver, gostaria muito de ter tocado os quadros, as obras de arte expostas ali. Eu queria muito ter sentido aquele quadro vermelho do Modigliani que acordou meus olhos. Ou o Rosa e Azul, tão brilhante de perto, cheio de relevos... Eu não pude tocar as obras, mas nem por isso, a pele, ou a sentinela contínua, como você a chama, ficou esquecida. Eu fui tocada. Ela, espalhada por toda a superfície do corpo para advertir de tudo que possa ofendê-lo, relaxou. Sentiu-se bem. É, Jean-Jacques... aqui concordo inteiramente contigo... tudo que o tato percebe, percebe-o bem.

Meus olhos em festa. Uma festa que pouco a pouco foi me envolvendo e eu não sabia mais quem era real: eu ou aqueles seres fantásticos. Realmente, é preciso muito tempo para aprender a ver. Se para você, amigo, a visão é, de todos os nossos sentidos,  o mais falível, exatamente porque é o mais extenso, eu corroboro: eu me perdi, Rousseau, na sedução rápida do olhar.

Mas não me arrependo, Jean.
Estive em festa nos cinco sentidos.
E o sexto, minha intuição, acordada.

Agora sei por que aquele museu se mantém suspenso.
Pelos sonhos que desperta.




3 comentários:

  1. Caro Rousseau
    Não tenho tanta intimidade com você pra lhe chamar de amigo mas aceite um conselho, se eu fosse você, ouviria mais a Magali...ela sabe das coisas!

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  2. Se só é possível filosofar em alemão, como diz o mano Caetano,é possível sentir toda a universalidade de sua delicadeza,cara amiga.Tens fino trato com as palavras.Descreves suas emoções como poucos.Sinto sua sinceridade daqui.

    Isso é coisa de Dama.

    Beijos!

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Obrigada por comentar no blog. Se tiver um email, escreverei para você. Abraço,
Magali