Parada no farol, eu cantava ao volante.
Do meu lado, uma viatura policial.
"A senhora canta muito bem."
Olho para o lado: dois policiais.
Um moreno, cara rechonchuda; o outro bem claro, de aparelho nos dentes.
Os dois de óculos escuros.
Quando me virei para eles, dois sorrisos largos me receberam.
"Obrigada".
"É é afinada."
"Que bom que gostaram..."
"É bom pra relaxar ouvir uma voz assim ..."
" Realmente, vocês precisam mesmo de momentos relaxantes.Desejo a vocês um bom dia de trabalho."
"Pra senhora também".
Novos sorrisos iluminam nossas vidas.
O farol abriu.
Talvez, alta probabilidade, nunca mais encontrarei esses dois jovens, fardados. Cheios de sonhos, de vontade de trabalhar, de ouvir música. Como meu filho. Como nossos filhos.
Não é possível que uma sociedade permita tanto o preconceito contra uma categoria profissional, quanto o assassinato "alvo fácil". O policial mostra-se, fardado. O assassino espreita e atira escondido. sempre pelas costas.
Numa guerra civil como a nossa, me emociona ver dois meninos trabalhadores que ainda percebem um momento de poesia na dureza da vida no fio da navalha.
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