Quando eu era pequena
só havia um carro na família: o Opalão vermelho, de frisos pretos, xodó do meu pai. Conquistado com suor de anos de trabalho.
Quando íamos na "vendinha", eu e minha irmã, só tinha bolacha Maria ou Maizena. Os doces eram aqueles de batata, abóbora, com ou sem anelzinho de presente (que delícia ganhar aquela jóia). E os Dadinhos, baratinhos que vinham de monte com pouco dinheiro.
Refrigerante, só de domingo de festa.
Hoje é muito fácil comprar e trocar de carro, bolacha, celular, marido, mulher...
Todo dia é dia fde festa...
Todo dia é dia fde festa...
Não daquela festa curtida, esperada, desejada, construída.
Festa do prazer rápido: usou joga fora. Seja coisa ou pessoa.
Tudo tem seu preço. Coisa ou pessoa.
Preço baixo...
E troca rápida.
E eu sou adepta
do slow food
da reutilização de copos descartáveis
de consertar o celular
de ficar com o Gol do tio
de manter o casamento
de valorizar a família
de aprender a tolerância sadia
de exercitar a paciência
Eu, nessa minha lentidão, estou assustada com tanta facilidade.
E perdida, como cego me tiroteio de carros, celulares, relacionamentos, bolachas que caem na minha cabeça.
Que saudade imensa do gosto de festa na alma quando tinha refrigerante em casa...
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