quinta-feira, 21 de junho de 2012

Nair



Minha querida e bailarina amiga, Nira, está no Brasil.

Que gostoso abraçá-la, sentir seu corpo, seu cheirinho. 
Uma bailarina de primeira, baixinha, de pernas grossas, valente.

Lembro  de nós duas na Praça do Pôr-do-Sol, antes de ela ir para a Alemanha.
Lembro  das tardes na sua casa, em Guarulhos.
Nossas confidências. 
Nossos amores. 
Nossos instrumentos da banda sendo lustrados. 
O meu, um par de pratos, e seu, um bombardino. 
Nunca entendi como conseguia soprar aquilo, sendo tão pequenina.

Sua irmã, a Irna, também minha amiga, veio dos Estados Unidos...
Passamos também bons momentos juntas...

Lembro de sua mãe, D. Nair, sempre agitada, querida, cuidando de tudo e de todos.
Ela foi minha mãe substituta. 
Sua casa era minha. 
A qualquer hora.

Além de mãe, foi maestrina.
Foi minha primeira maestrina. Ensinou-me a cantar em coral e a tocar em orquestra. Alegre, em vocalizes ao piano, tentando afinar corações enlouquecidamente desafinados.
Meu Deus, o Fernando, meu namorado, era surdo, eu acho.... 
Não afinava nem bom dia...

D. Nair está na UTI.
Nira, Irna, Inar, Hércules... tristes.

Mas ela não pode estar ali. 
Há muitas músicas a serem tocadas, muitos Fernandos esperando a afinação, muita alegria a sair de seu sorriso.

D. Nair, volte logo.
Por favor.

Nira, minha querida bailarina, sente-se no meu colo. Como hoje à tarde.
A gente chora junto. 
Irna, Fique comigo.
Eu amo vocês.
Eu amo sua mãe.
Nossa mãe.


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