quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Gosto de festa


Quando eu era pequena
só havia um carro na família: o Opalão vermelho, de frisos pretos, xodó do meu pai. Conquistado com suor de anos de trabalho.

Quando íamos na "vendinha", eu e minha irmã, só tinha bolacha Maria ou Maizena. Os doces eram aqueles de batata, abóbora, com ou sem anelzinho de presente (que delícia ganhar aquela jóia). E os Dadinhos, baratinhos que vinham de monte com pouco dinheiro.
Refrigerante, só de domingo de festa.

Hoje é muito fácil comprar e trocar de carro, bolacha, celular, marido, mulher...


Todo dia é dia fde festa...
Não daquela festa curtida, esperada, desejada, construída.
Festa do prazer rápido: usou joga fora. Seja coisa ou pessoa.

Tudo tem seu preço. Coisa ou pessoa.
Preço baixo...

E troca rápida.

E eu sou adepta 
do slow food 
da reutilização de copos descartáveis
de consertar o celular
de ficar com o Gol do tio
de manter o casamento
de valorizar a família
de aprender a tolerância sadia
de exercitar a paciência

Eu, nessa minha lentidão, estou assustada com tanta facilidade.
E perdida, como cego me tiroteio de carros, celulares, relacionamentos, bolachas que caem na minha cabeça.

Que saudade imensa  do gosto de festa na alma quando tinha refrigerante em casa...