A destituição de objetos históricos familiares é uma violência.
E gera violência.
Antigamente os objetos sobreviviam às pessoas e carregavam a história. Hoje desaparecem, provocando assim sofrimento por um certo desenraizamento.
As histórias guardam certo saber; se desaparecem, não há como reconhecer-se e, por consequência, reconhecer o outro.
Por isso guardo fotos.
Volto a lugares onde morei.
Registro.
Conto ao meu filho e o levo lá.
Prefiro bens que carregam em si a minha história. A história da minha família.
Sonho em comprar aquela casa da Rua Arcoverde... Passo lá em frente e mostro-a aos meus amigos.
A chácara, repleta de histórias, em pé de laranjas e mangas. Não sai da família...
O milho do quintal da D. Dora.
Minha casa em Tatuí: continuação da história do meu sogro, que comprou aquela casa com sacrifício. Ela em si já é da história: do encontro das irmãs, pai num churrasco. Da cara linda do meu pai, com orgulho da filha que construiu uma casa "maior que a expectativa". Forte ouvi-lo dizer isso. Minha primeira casa própria. Do meu tamanho. Com muito suor e amor.
Outros vieram; nenhum perdi. Alguns foram violentados. Mas não por mim. Jamais violentaria a história.
Por isso, em minha casa, um lugar especial, bem à nossa vista: a espada do meu pai. Com sua fita cor do Brasil traz em seu corte a história mais pura que ele me deixou.
Não é nostalgia: é passado vivo e intenso.
A historicidade que reforça minha singularidade, numa alteridade acolhida.
Magali
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