THIS IS US
or
THIS ISN´T US
This is us me trouxe muitas emoções.
Propiciou conversas edificantes, prestou serviço. E me vem This isn´t us.
Não tenho pais que ficaram casados até um deles morrer. Nem eu fiquei casada com o mesmo, para sempre. Para quem tem mais de um casamento, como eu, meu atual marido e meus pais, qual dos cônjuges vai estar lá, na cama, no quarto do trem final? Pode escolher? Ou o critério será antiguidade? Afinidade? Aquele com quem se teve filhos? Ou estarão todos lá, no mesmo travesseiro? Já acrescentou uma certa angústia - e talvez em algumas pessoas nessa situação. Tem gente que pode estar na sala, no quintal, no parque... mas já tiramos do quarto. Você aí, que já casou mais de uma vez, pensou nisso?
Não tenho irmão ou irmã gêmea. Então não sei como é viver essa ligação intensa... meio codependente no meu modo grotesco de avaliar. Irmão é aquela coisa: bacana à beça para brincar e complicado à beça quando não quer brincar. Tem irmão que não aceita a ordem em que veio, ou mesmo ser filho. Irmão mais velho é um perigo. Digo por mim que sou a mais velha de todos os casamentos dos meus pais. Isso ninguém me tira! Mas tentam roubar. Os mais velhos dos novos casamentos ... daí a brincadeira não rola, fica tensa. Irmão é bom mesmo para brincar, na boa. Você está brincando bem com seus irmãos?
Não tenho irmão negro adotado. Que eu saiba. Essa história foi a mais complicada. O adotado para suprir um buraco da perda do filho morto no parto. Eram três e tem que voltar com três para casa. Não tem como encaixar. Os Persons quase canonizados por essa grande ação, sempre amando, amando. Me faz pensar nas adoções para “tapar” problemas familiares. Já vivenciei com uma amiga que a irmã dela que teve filho e a mãe adotou para não “estragar” a reputação da filha. Um rolo danado. Todo mundo fingindo. E pensei num lance que chamarei de “adoção passiva”: a criança não é filha do cara, mas nem ele nem a criança sabem disso. E vivem “felizes para sempre”. Tem disso sim. Às vezes não encaixa pai e filho – ou filha - e a gente acha que é problema de terapia, mas pode ser sistêmico: no fundo a alma sabe que tem um grande engodo ali.
Ex-conjuge incluído na família atual. Sensacional o Toby presente quando morre a ex-sogra. Se bem que dizem que sogra é para sempre, tem até lei formalizando isso, parece. Pensa no this is us da vida real: o cônjuge atual, e os cunhados – os cunhados!, aceitando sua presença suave na nave... Já viveu isso? Nesse meu mais recente casamento, e espero que último, por vários motivos, eu queria fazer um café da manhã com a família mosaico completa. Eu, meu marido atual, meu ex com a atual dele, a ex-dele com seu atual (que não sei se tem... se não tiver já quebra toda a simetria) todos os filhos... Todo mundo feliz. Seguindo em frente. Uma das minhas imãs quando ouvia sobre esse meu sonho, dizia: “só você quer esse café da manhã. Vai dar morte”. Tenho a sensação de que ela está certa. Uma força maior protegeu nossas vidas, evitando o hell´s breakfast. Que você acha? De minha parte, desisto temporariamente: fica para uma próxima encarnação.
Inclusão do cônjuge atual pela família anterior. Quem assistiu a séria de com o sentimento de Poliana (como o meu para com o café da manhã da família mosaico) pode ter achado que o Miguel era totalmente aceito e incluído. Não sei bem se o Miguel foi “incluído”. Ele estava lá. Era como um pinguim em cima da geladeira. Lembra quando ele quis fazer sua festa de aniversário e colocar a bonequinha mexicana? Precisa dizer mais alguma coisa?
Mas em matéria de separação e recasamentos tem chão ainda, para todo mundo. A separação dos meus pais aconteceu há 50 anos atrás. Não tinha divórcio. Era desquite. Ou seja: a pessoa nem podia se casar de novo, “no papel”. A sociedade não tinha experiência de separações. Os filhos eram feitos de joguetes entre os pais, cada um tentando provar que o outro era pior ou não prestava; a disputa pelos filhos era psicológica e cruel. Hoje melhorou muito: tem até guarda alternada, onde se divide a casa deles, já que não dá para dividir ao meio um ser humano. Concorda que evoluímos bastante?
Na vida real, que família aguenta a assertividade da Beth? Ainda mais sendo cunhada – ou, mais denso ainda: nora?
“This is us” acabou. Foi legal. Um conto de fadas da família quase perfeita.
A vida real e de viés está de volta.
Bora viver o This isn´t us: minha família maravilhosamente imperfeita.
(This is us é uma série finalizada, que pode ser assistida na Star+)